Há o campo em que os agricultores trabalham e utilizam nossas máquinas. E há o campo da tecnologia agrícola, onde estão os fabricantes de equipamentos como a AGCO. Estamos fazendo de tudo para que eles sejam um só.
“Para os agricultores. Para as pessoas que trabalham para a agricultura. Para nós. Para o futuro”.
Alexandre Vinicius de Assis*
A natural vocação agrícola do Brasil coloca o setor do agronegócio, historicamente, como um dos alicerces não só da economia, mas também da pesquisa e inovação. Frente a um cenário desafiador devido às mudanças na política e, consequentemente, na economia, o agro ganha relevância ainda mais evidente, ao seguir mantendo e gerando empregos e movimentando mercados em diversas frentes, em especial a de alimentos.
Obviamente, no entanto, há impactos diretos nas perspectivas para o agribusiness pelo momento delicado que vivemos e, neste sentido, ganham destaque aqueles que se constroem movimentos de estratégia capazes de gerar diferenciação e aumentar competitividade. Afinal, busca de inovações, otimização de processos, desenvolvimento de novas metodologias são cada vez mais necessários.
Dentro deste contexto, nota-se um movimento atual por parte dos agricultores, que tradicionalmente cultivam cana-de-açúcar, de incluir o plantio da soja em suas propriedades, em especial as localizadas nas regiões adjacentes a Ribeirão Preto e proximidades – o noroeste paulista produz cerca de quase 20% de toda a cana do Brasil. A rotação de culturas não é exatamente novidade; as características brasileiras, com uma ampla área de cultivo, abundância de recursos hídricos e clima que permite duas safras por ano com volumes muito próximos (uma raridade no mundo) a favorecem. Neste caso, porém, a manobra é mais interessante por aproveitar os intervalos de crescimento das mudas para cultivar os grãos de soja, praticamente sem interferir na produção de cana.
Pelo contrário, aproveita-se as áreas de renovação do canavial. A técnica consiste em plantar soja ao redor das linhas de cana. Com isso, a usina ganha como vantagem uma nova fonte de receita, aumentando seus resultados e, ainda por cima, ajudando na renovação do solo.
É evidente que há um processo de migração de áreas de cultivos no estado de São Paulo. Considerando as últimas 11 safras (de 2008/09 a 2018/19), a área de soja teve uma expansão de 449 mil hectares (85%). A produção aumentou 2,17 milhões de toneladas (167%), atingindo 3,5 milhões de toneladas. No somatório geral do cultivo de grãos, a área cresceu 415 mil hectares (29%). Já a produção cresceu 53%. A área de cana – mesmo já em gradual retração no final do período analisado – teve crescimento de 594 mil hectares (15%). Efetivamente, não perdeu área para nenhuma cultura.
Vale lembrar também que há ganhos em termos de cronograma ao se adotar a tática: enquanto a muda de cana pode levar até um ano para estar 100% pronta, a soja atinge a maturidade em menos da metade desse tempo, além de ajudar a recuperar nutrientes do solo. Outro benefício é o agricultor não precisar plantar as mudas em um viveiro para depois transportá-las; é possível colocá-las diretamente na área correta.
Esse movimento, que vem ganhando proeminência ao longo dos últimos dois anos, é obviamente um reflexo da situação do mercado de cana nos últimos anos, que exigiu inventividade para aumentar a rentabilidade dos produtores.
Pensando de maneira mais macro, a estratégia tem ainda desdobramentos extremamente positivos: geração de empregos, movimentação da economia e desenvolvimento de mercados paralelos em toda a cadeia.
Para as produtoras de maquinário agrícola, expande-se o mercado. Como conseguinte, elas estão começando a receber dos produtores de cana pedidos para compra de plantadeiras e colheitadeiras voltadas para o cultivo de soja e, também, outros grãos, como o milho. É a prova de que estão encarando não só como uma atividade paralela, mas sim um business que merece investimentos, tanto de verba quanto de esforços.
Já estamos, pela AGCO, trabalhando próximo às usinas e fornecedores de cana para apresentar tecnologias que não são comuns ao dia a dia do agricultor canavieiro. No momento, a maioria ainda está terceirizando esta nova operação, mas existe uma procura cada vez maior dos produtores para entender este novo cenário, o que certamente vai alavancar vendas e estimular toda a cadeia, desde os fornecedores de insumos até a entrega de colheitadeiras, plantadeiras e tratores.
É gratificante acompanhar essas e outras ações que mostram como o Brasil vem se reinventando em um setor tão tradicional, mas que, ao mesmo tempo, investe pesado em desenvolvimento. Aproveitar uma necessidade para descobrir oportunidades fará toda a diferença para quem deseja vencer esse cenário adverso da atual conjuntura econômica. Por esse motivo, convido todo o setor do agronegócio a pensar em formas de refazer seu trabalho, e principalmente a aproveitar nossa capacidade criativa para encontrar soluções que ajudem não só nos negócios de cada um, mas também a alimentar com cada vez mais qualidade a população brasileira e mundial.
* Alexandre Vinicius de Assis é diretor de Contas Chave da AGCO América do Sul, fabricante de tratores, colheitadeiras, pulverizadores e implementos agrícolas. Concluiu os cursos de UK Business & Management Programme pela Bournville College, em Birmingham (Inglaterra), em 2011; Gestão de Resultados (especialização “in company”) pela Fundação Dom Cabral, em 2010; MBA em Marketing pela FEA/USP, em 2008; e graduação em Administração de Empresas com Habilitação em Comércio Exterior pela Universidade Brás Cubas, em 2001.